E se a história de GTA fosse sobre mocinhos? Podemos assumir que isso certamente passou pela mente de muitos fãs, especialmente de quem vem acompanhando a cena do crime desde os primórdios da franquia, desde 1997.
De forma alguma está claro se as histórias de CJ, Tommy, Niko e de tantos outros seriam afetadas por essa mudança conceitual, mas seria interessante ver como os protagonistas seriam se estivessem fora dos bancos assaltados, não dentro.
Foi com essa premissa que a Fallen Tree Games trabalhou em The Precinct, título que promete apresentar uma evolução natural dos primeiros GTAs — mas agora sob a pele de um policial que busca combater o crime e salvar a cidade da ascensão de gangues.
A nova geração vem forte
Averno, 1980. A cidade localizada na costa leste do país está tomada pelo crime, mesmo diante dos esforços da polícia local em combater criminosos, vândalos e atividades que prejudiquem o bem-estar da população e das fundações.
Nick Cordell Jr., novato que acaba de deixar a academia, assume seu cargo de policial novato e deve não apenas aprender e praticar seu serviço com excelência, mas também honrar o legado de seu pai, chefe de polícia morto há anos pelas mãos de facções.
A vida do oficial não é fácil. Cada turno exige longos percursos a pé ou na viatura, bem como observação apurada para limpar a cidade e acompanhar cada ação suspeita. Você dará conta de tudo, mesmo que sua tragédia familiar te assombre diariamente?
Coloque seu nome no ponto, pegue suas melhores armas, chame seu parceiro de ronda e esteja pronto para mais um belo dia no paraíso. Quer dizer… o “belo” depende unicamente de seu bom trabalho para a comunidade.
The Precinct é um game de aventura e ação sandbox, com perspectiva isométrica amplamente influenciada pelos primeiros GTAs. Porém, aqui você assume o papel de um mocinho que deve lutar contra o crime de acordo com o que apareça na sua frente.
A proposta é a mesma e deve ser familiar para fãs de longa data, mas com coisas interessantes. Isso porque ela se limita apenas à perspectiva — gameplay, visuais e ritmo narrativo estão totalmente adaptados às plataformas modernas.
Preste atenção: não estamos dizendo que os gráficos são de ponta. Mas as animações de The Precinct, com estilo cel-shading, são muito bem feitas, especialmente quando diz respeito à alta densidade de objetos nos mapas.
NPCs, veículos e itens respondem organicamente ao movimento do jogador. Você pode interagir com todas as pessoas de Averno, enquanto a reação física dos objetos surpreende por meio de cenários destrutivos, ótimo sistema de colisão e mapas convincentes.
Com isso, a exploração em The Precinct se torna totalmente satisfatória, mesmo com alguns problemas de design que têm boas chances de impactar a experiência do usuário — e como a campanha pode levar de 12h a 15h para ser concluída, os riscos são altos.
Simulação simples, mas cheia de personalidade
A simulação do dia-a-dia de um policial surpreende em The Precinct. Desde os primeiros minutos, você tem acesso a uma grande quantidade de ações que, se bem realizadas, lhe rendem pontos e status dentro da delegacia.
Durante a aventura, é preciso multar carros estacionados de forma inadequada ou acima do limite de velocidade, advertir quem joga o lixo no chão, dar bronca em pessoas que compram drogas, punir por atropelamentos ocasionais e fiscalizar placas irregulares.
E isso é só a ponta do iceberg: o combate ao crime em The Precinct é bastante versátil. Gangues se espalham por Averno roubando lojas, assaltando civis, brigando “na mão”, atirando em confrontos de larga escala, fugindo de outros policiais e muito mais.
O sistema sandbox do game, que dá início a eventos totalmente aleatórios, permite que Nick escolha qual caminho tomar. Isso quer dizer que, em um turno, é possível passar suas 6, 8 ou 10h apenas caçando problemas de estacionamento inadequado.
Já o combate de The Precinct também é muito interessante. Níveis de criminalidade exigem que abordagens letais ou não letais sejam tomadas. Para isso, há opção da “trocação sincera” com bandidos, de usar golpes de jiu-jitsu ou de simplesmente atirar.
O game oferece várias armas de fogo que são desbloqueadas de acordo com seu nível dentro da polícia. Avançar nesse sistema de progressão destrava áreas para patrulha, pontos de habilidade e equipamentos, utilizáveis tanto à curta quanto à longa distância.
Essas mecânicas se estendem para as perseguições com veículos. Nick pode dar ordens para que outras viaturas, tropas de choque ou helicópteros se juntem às caçadas, enquanto seu parceiro atira nos criminosos e danifica seus carros com o tempo.
Além disso, há a opção de personalizar horários de turnos, caso você queira ganhar mais XP estendendo as horas, selecionando apenas um tipo de ocorrência ou editando outras preferências de acessibilidade.
Escorregando no próprio cadarço
Infelizmente o modelo adotado para The Precinct pode ser um pouco prejudicial. Todo o gameplay é baseado em turnos de loops: saia para fazer rondas, acumule provas contra criminosos, volte para delegacia e encerre seu expediente. No dia seguinte, tudo de novo.
Com o tempo, apesar da boa variedade de ocorrências, as coisas começam a ficar cansativas e a parecerem excessivamente longas. Rushar não é uma opção, já que existe a obrigatoriedade de alcançar pontos de medidores para destravar caçadas aos chefes.
O foco narrativo de The Precinct também existe, mas dentro de uma história extremamente clichê. Dessa forma, a dublagem bastante caricata e a previsibilidade narrativa não se sustentam muito diante de uma jogabilidade circular.
E como isso é superado? Bom, basicamente com uma jogabilidade excelente e com uma cidade que brilha muito. Os ciclos de dia e noite e de estações em Averno são fantásticos, enriquecendo-se da vibrante estética neo-noir proposta pelos desenvolvedores.
Explorar a cidade buscando crimes ou colecionáveis é bem divertido. Os cenários são ricos em detalhes e a trilha sonora é excelente, refletindo as ideias dos anos 1980 e a atmosfera de thriller dos melhores filmes policiais.
The Precinct: vale a pena?
O hype existente por quem vem acompanhando o desenvolvimento de The Precinct se justifica. De fato, temos uma ótima e divertida experiência sandbox que prioriza tanto a imersão no mundo quanto na rotina de um policial novato.
O título é amplamente beneficiado pelos visuais animados e pela organicidade de Averno, que torna cada ronda única. A liberdade no gameplay também merece palmas, pois é possível concluir os dias da forma como quiser — seja trabalhando ou só rodando.
Quem busca algo mais intenso e propositivo pode se incomodar com o loop exagerado e obrigatório em The Precinct. Talvez, se ele não fosse tão brutal em relação à campanha, a experiência ficaria ainda mais atrativa.
De qualquer maneira, o título vale muito a pena. GTA com policiais é uma realidade palpável e convincente, em especial quando feito pelas mãos de pessoas que respeitam a nostalgia dos veteranos e a necessidade de adaptar para a modernidade.
Não deixe de conferir o game na PS Store, pois The Precinct é mais um título indie que merece destaque em 2025.