The Last of Us é uma das franquias mais importantes da história da PlayStation. O primeiro jogo foi lançado em 2013, e desde então moldou expectativas para narrativas nos videogames. Com o sucesso de Part II e a série da HBO, muitos esperam uma Parte III. Mas será que ela realmente é necessária?
A pergunta parece simples, mas carrega implicações profundas. É comum pensar em trilogias como estruturas naturais para franquias, mas nem toda história precisa de um terceiro capítulo.


A Sony não pressiona a Naughty Dog por The Last of Us Part III
No caso de The Last of Us, você pode imaginar que a urgência por uma continuação pode não vir da narrativa, mas do impacto comercial e cultural criado pelo nome. Nos bastidores não é bem assim. Acredite ou não, a Sony oferece uma boa dose de liberdade aos seus estúdios quando o assunto é decidir o próximo projeto.
Isso quer dizer que The Last of Us Part III só existirá se a Naughty Dog assim desejar. Neil Druckmann é bem direto ao negar qualquer tipo de pressão por parte da PlayStation Studios e seus superiores: “cabe a nós decidir se queremos continuar ou não”.
The Last of Us Part III só virá se tiver uma nova história
A Parte I trouxe uma jornada sobre amor e perda em meio ao apocalipse. Joel e Ellie enfrentaram um mundo devastado e revelaram as falhas morais dos próprios sobreviventes. O final, polêmico, foi encerrado de forma propositalmente ambígua.


A Parte II, por sua vez, expandiu esse mundo com uma história de vingança e consequências, e embora dividisse opiniões, foi corajosa ao quebrar expectativas e provocar o jogador.
Mas ao fim de Part II, há um sentimento de conclusão. Ellie abandona tudo. A vingança a consome, e ela perde Joel, Dina e até seu espaço no mundo. Não há redenção fácil. A história não se amarra com laços bonitos — e talvez por isso mesmo funcione. Forçar uma Parte III pode arriscar reabrir feridas que foram deixadas propositalmente abertas.
Neil Druckmann, criador da série, já comentou que só faria uma Parte III se tivesse uma história digna. “Não faria só por fazer”, disse em entrevistas anteriores.
Isso revela um cuidado criativo. A Naughty Dog não é conhecida por prolongar universos sem necessidade — basta ver o encerramento da série Uncharted, que inclusive deixa muitos ansiosos por uma continuação.
No entanto, a pressão por parte dos fãs é outra agora. The Last of Us não é apenas uma franquia de jogos; virou uma mídia. Não só os fãs dos games, que já “terminaram” a saga, desejarão um desfecho. Um novo público, cativado pela adaptação para TVs, também deve pedir um capítulo final digno.
A série da HBO aumentou ainda mais a relevância da franquia. Da segunda temporada adiante, os eventos de Part II prometem impactar os espectadores.
O risco aqui é o da expectativa superar a necessidade. Criar um terceiro jogo apenas para acompanhar o sucesso da série pode comprometer a integridade do que foi construído. Novas histórias dentro desse universo até serão contadas — vide a origem do cordyceps na primeira season —, mas ir além? Teremos de esperar para ver.
Quem seria o protagonista de The Last of Us Part III?
Existe também a questão do ponto de vista narrativo. Em Part I, jogamos com Joel; em Part II, com Ellie e Abby. Se houver uma Parte III, quem seria o protagonista? Ellie tem espaço para crescer? Abby retornaria? Ou veríamos novos personagens?


Além disso, a estrutura narrativa dos dois jogos anteriores é densa, com temas pesados como luto, trauma e moralidade. Não são jogos leves, e por isso mesmo exigem um compromisso emocional do jogador. Parte III precisaria ter algo relevante a dizer. Uma nova jornada sem essa profundidade poderia soar forçada ou até desrespeitosa com o legado da franquia.
É importante lembrar que, no cenário atual, muitas franquias acabam estendidas por razões comerciais. O sucesso de The Last of Us Part I e Part II resultou em vendas milionárias, prêmios e recordes de engajamento. Isso cria um dilema: há um apelo claro do público e um retorno garantido, mas nem sempre isso significa que a história precisa continuar.
Importante ressaltar que a PlayStation vem sendo bastante criticada em torno disso. The Last of Us foi lançado em 2013, teve um remaster para PS4 e um “remake” para PS5. O segundo game passou por algo parecido: chegou ao PS4 e acabou tendo um tratamento para o PS5. Ambos chegaram ao PC e ainda por cima ganharam uma coletânea — a Complete Edition, que o próprio nome oferece uma “tacada” na possível trilogia.
O modelo de lançamento da Sony também afeta essa decisão. Ao focar em grandes experiências single-player, a empresa aposta no impacto emocional como diferencial frente à concorrência. The Last of Us se encaixa perfeitamente nesse perfil, o que pode tornar um novo título ainda mais tentador — especialmente com a nova geração de consoles amadurecendo nos bastidores.
Precisa ser um novo jogo ou uma expansão serve?
Por outro lado, há também um argumento válido a favor de uma Parte III. O mundo pós-apocalíptico de The Last of Us é rico, com inúmeras histórias não contadas. Personagens secundários, facções e locais poderiam ser explorados com novos olhos, oferecendo novas perspectivas e mantendo o universo vivo.
A série de TV, inclusive, já mostrou que há espaço para outras narrativas paralelas.
Mas será que isso precisa ser feito como um “Part III”? Talvez o nome em si carregue peso demais. Há quem defenda a criação de um novo jogo no mesmo universo, mas com identidade própria — como foi feito com Left Behind. Isso permitiria expandir o mundo sem tocar diretamente na história de Joel, Ellie ou Abby.
Há o outro lado da moeda: The Last of Us “já deu o que tinha que dar”?
Outro ponto relevante é o cansaço narrativo. The Last of Us Part II foi emocionalmente pesado. Muitos jogadores saíram exaustos, o que não é um demérito — pelo contrário, mostra o poder da obra. No entanto, isso levanta a dúvida: o público quer reviver algo assim tão cedo? Existe espaço para outra experiência igualmente impactante ou seria melhor deixar o silêncio falar mais alto?
A resposta pode estar na própria evolução da Naughty Dog. Após The Last of Us Part II, o estúdio vem testando novas ideias. Fala-se em projetos inéditos, e há expectativa para ver a equipe criar algo completamente novo. Parte III, nesse sentido, poderia adiar essa inovação — ou até mesmo sufocá-la.


Do ponto de vista artístico, repetir fórmulas bem-sucedidas sempre carrega riscos. A pressão por agradar um público já dividido pode comprometer a liberdade criativa. Parte II foi ousado porque quebrou o molde. Parte III, para ter o mesmo impacto, teria que desafiar ainda mais. E talvez esse não seja o caminho mais saudável para a franquia.
The Last of Us Part III é necessário?
No final, a questão permanece: The Last of Us Part III é necessário? A resposta pode variar de jogador para jogador, mas é importante entender que nem toda história precisa de uma continuação. Às vezes, o mais poderoso é saber quando parar. A Parte II já deixou cicatrizes suficientes para que possamos lembrar da franquia com intensidade por muitos anos.


Entre o “provavelmente” vai acontecer e o “não apostem nisso” de Neil Druckmann, há também o apetite por novas aventuras. Afinal, nem só de Uncharted e The Last of Us vive o estúdio. Jordan A Mun vem aí para uma odisseia intergaláctica e há outros projetos no radar. Se vão criar a mesma comunidade e apelo? Não sabemos. Mas pelo histórico, muitos pagarão para ver.
Se a Naughty Dog sentir que tem algo realmente novo, relevante e poderoso a contar, que o faça. Mas que essa decisão parta da história, e não da demanda comercial ou da pressão do sucesso. A franquia merece esse respeito. E os jogadores também.
Até lá, talvez seja mais prudente lembrar que os silêncios de Ellie, as notas do violão de Joel e o som dos estaladores ao fundo já disseram tudo que precisavam dizer. E talvez seja exatamente por isso que The Last of Us continua tão vivo — mesmo em seu silêncio.